quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Seria cômico se não fosse trágico


  É lamentável ver os crentes baseando sua fé em pouca coisa. A necessidade de aceitação   desse  grupo ultrapassa o absurdo a ponto de se acharem ridículos porque alguém não professa a mesma fé que eles.

  Vibram por pouca coisa. Menosprezam os sacrifícios dos personagens que protagonizaram as Cartas de Paulo e a história do início da igreja. Se tivessem presenciado quantos níveis de provações os mártires da Igreja passaram, ou ainda, só de imaginar que o Mestre renunciou a sua glória para nos reconciliar com o Eterno... se víssemos o Seu sofrimento pediríamos para que Ele não passasse por tudo aquilo. Faríamos o papel do Lúcifer tentando-o fazer desistir de sua missão de ser sacrifício vicário  por nossos pecados.
  Mas o que hoje vemos? Cristãos superficializados esperando a aceitação da fé em Cristo Jesus por pessoas consideradas legais, influentes, abastadas, ou qualquer outro membro da sociedade digno de notoriedade. Isso ficou bem claro, recentemente, quando os crentes ovacionaram o fato de Renato Aragão desistir de estrelar um filme cujos princípios feriam a fé cristã. Era como se dependessem dessa desistência para que a fé fosse autenticada mais uma vez.
  “Rasos e débeis”.  Assim que o apostolo Paulo nos chamaria se presenciasse nossa vibração com tamanha idiotice. Qual é o nosso medo? Ainda bem que o Mestre não depende de Renato Aragão para ser reconhecido como o Filho do Eterno. Ainda bem que Ele não precisa de que o Sr. Didi desista de fazer algum filme para que sua obra redentora seja completa.
  Temos é que nos colocar em nosso lugar e saber que o evangelho é reflexo do poder do Eterno e que nada pode para-lo. Muito menos um filme de filosofia rasa feito para pessoas de conteúdo igualmente raso. Essa geração de crentes formatados que constroem casas em terreno arenoso deve mesmo se preocupar com qualquer mudança no tempo. Pois até mesmo uma brisa, como um filme, é capaz de abalar suas casas. Sim, porque só mesmo a fé alojada em terreno instável pode depender que um astro de televisão partilhe da mesma crença.
  O mais duro é presenciar as congratulações por essa “vitoriazinha” de  conseguir fazer um palhaço desistir de alguma palhaçada.  Imaginem se fosse na época do Mestre esse mesmo povinho que se denomina incomodadores do inferno em ação.Visualize a cena: uma mobilização gospel colhendo assinaturas em pergaminhos para que Jesus pregasse na maior sinagoga de Israel. Ou depois, diante de Pilatos, todo o grupinho reunido com faixas e camisetas estampadas com frases de efeito: “NÃO DEIXE CRUCIFICAR O MESTRE”. É assim que milita essa geração. Ora, ainda bem que não estavam lá. .
  Sempre crucificamos Pedro por ele ter negado o Mestre. Quem somos nós para assumir essa posição de superioridade? O mesmo Pedro após um discurso levou três mil pessoas a conhecerem o evangelho. Não precisou cheirar bíblia, nem criou movimentos com fórmulas mágicas para aproximar pessoas ao Eterno, não se baseou no asceticismo para fazer com que o evangelho penetrasse nas vidas e mudasse o caráter das pessoas. Nós negaríamos o Mestre também. O sujeito caminhou com Jesus, ouviu seus ensinamentos, até sobre as águas andou e você ainda acha que só por ter uma religião que não se mobiliza para impactar a nação pode ser melhor?
   Acha mesmo que na Eternidade o Pai virou-se para o Mestre e disse: “viu, meu Filho, eles conseguiram parar o Aragão. Vamos comemorar, chame o coral para tocar, hoje é festa no céu.”?Acha mesmo que está fazendo alguma coisa para o reino quando se gloria por isso?
  Livre-se dessa necessidade de aceitação. Que mediocridade desejar que seu patrão seja um crente da sua denominação, ou que um famoso pertença a sua congregação. Esqueça isso. Nunca leu Tiago 2?  Anuncie o evangelho refletindo-o em seu caráter. Glorifiquemos ao Eterno pelo que Ele é e pela obra redentora desempenhada por seu Filho, e não pelo fato de algum tolo desistir de uma atitude que denigra a imagem daquele que dizemos conhecer.
  Enquanto fazemos nossa passeata rumo à casa de Pilatos com nossas camisas estampadas, as famílias dos sacerdotes fazem da casa de oração um esconderijo de ladrões. É isso mesmo, nos preocupamos com coisas que não tem efeito para o reino enquanto a sujeira se estende diante de nossos olhos. Somos omissos frente ao que deveríamos agir e perdemos tempo militando por causas fúteis. Enquanto isso, muitas igrejas (instituição, por favor) são transformadas em verdadeiras lavanderias de dinheiro sujo. Pessoas passando necessidade dentro dessas comunidades enquanto oportunistas lesam a fé dos pequenos, praticando o ideal “pequenas igrejas, grandes negócios”. Cadê as passeatas para que o evangelho puro e simples seja proclamado?
  Paulo daria um sermão que nos envergonharia. João nos chamaria pelos nomes mais pesados. Pedro puxaria a faca para nós. O centurião iria zombar de nós. A mulher do fluxo de sangue diria que não sabemos a quem servimos. A mulher samaritana, diria que não compreendemos o amor do Eterno para conosco.
   Tenhamos vergonha de associar o nome de Cristo a esse cristianismo que busca aceitação. Ele não queria isso. O  Mestre preferiu se fazer homem, tomar nosso lugar e oferecer sacrifício completo para nos restituir a aliança quebrada no Éden e anunciar um reino pautado no amor ao próximo. O Eterno não depende que o Didi desista de alguma coisa para que a sua obra tenha êxito. Se os anjos pudessem nos aniquilariam por tamanha demência de nossa parte, pois eles queriam refletir o caráter do Eterno para que outros também fossem alcançados. E nós aqui, vislumbrando a aceitação de terrenos. Que o Eterno nos dê a Paz!

3 comentários:

  1. Querido Gilmarc,

    Confesso que me vi escrevendo este texto. Seu raciocínio foi muito profundo e coerente. Quando vi tantos colegas e irmãos compartilhando aquela campanha para "proibir" Didi de lançar mais um de seus filmes ridículos, pensei: Será que eles querem que eu os reconheça como cristãos por fazerem parte desse "protesto"? Não, acho que não. Todavia, no fundo os cristãos de nosso tempo não querem mostrar sua fé através de uma vida ilibada e um testemunho fiel, de uma vida santa e de frutos do espírito, mas com coisas rasas e superficiais. É lamentável, chegarmos a este ponto. Por acaso o Didi contracenando o segundo filho de Deus, completando a obra que Jesus não terminou, iria me fazer esquecer o verdadeiro evangelho, o verdadeiro sacrifício. Não, acho que não. Os crentes hodiernos, não perderiam suas convicções por um mero filme. Ou será que sim?
    Parabéns meu nobre Gilmarc, você enchergou o que está ALÉM DAS ESCAMAS DOS OLHOS!!

    Pra

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  2. Paz, mano!

    Gostei do seu posicionamento. De fato, surpreendeu-me ver a enxurrada de comentários no Facebook sobre esse tal filme do Didi. Surpreendeu-me, em primeiro lugar, as pitadas de ódio e de isolacionismo que permeavam esses comentários. As pessoas condenavam a película com um certo prazer mórbido. Até hoje não sei sequer se é verdade ou lenda o conteúdo do já famigerado roteiro. Mas o que me causou indignação foi notar o engajamento pseudoapologético numa questão tão esdrúxula, em comparação à negligência com que tratamos questões que de fato são relevantes, aceitando os falsos ensinos de Felicianos e Waldomiros. O Didi e seja lá quem for têm liberdade de fazer filmes até mesmo blasfemos. Nem Deus os proíbe disso. Nós podemos e devemos refutar suas blasfêmias, mas com respeito e inteligência. E não podemos dar a elas uma importância maior do que a que merecem.

    Pelo menos há um raio de esperança em meio a esse desastre: existe um ardor apologético entre nós. Ele só precisa ser direcionado às questões corretas. Para isso, precisamos de jovens esclarecidos como você, que buscam enxergar as coisas "além das escamas dos olhos".

    Parabéns pelo blog! Que Deus te abençoe.

    Um abraço.

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  3. Os cristãos atuais são decadentes, e essa decadência é um problema muito amplo.
    Pra começar a educação cristã é pífia, quando não inexistente (vide o caso das igrejas neopentecostais que são, de longe, as que mais crescem no Brasil). Escolas bíblicas e discipulados sérios são os trabalhos mais desprezados. Nos cultos, todo mundo adora cantar, mas na hora da pregação (que por sinal, raramente é bíblica) todos vão beber água, ao banheiro, checar o facebook no smartphone (o cúmulo do absurdo, mas infelizmente é verdade).

    A necessidade de obter glória humana dos líderes não é menor do que a que tinham os papas medievais nas suas briguinhas políticas com os reis, com isso os líderes atuais enchem os templos de pessoas que nunca foram salvas para se vangloriarem do tamanho de suas congregações. E pior, colocam tais pessoas para "discipular" os novos "convertidos", fazendo os maiores absurdos porque simplesmente seus olhos continuam fechados pelo deus deste século de modo que não resplandece a luz do evangelho da glória de Cristo, que é a imagem de Deus. Não há arrependimento, não há Cruz nas pregações, não há exortação... Mas se você quer receber "bênçãos" e "milagres" tem milhares de "profetas" prontos para te "dar a vitória" basta você crer (e contribuir financeiramente, lógico, leia Malaquias 3:10, meu filho.)

    E tudo isso culmina no maior problema cristão na atualidade: as músicas. São elas, em sua grande maioria, desrespeitosas, irreverentes, antropocêntricas e passam longe, muito longe das Escrituras. Tudo isso sendo jogado na mente de um povo que culturalmente odeia aprender e prefere decorar frases de efeitos prontas, colocadas em um ritmo animado que agrada a carne de todo mundo. As pessoas vivem as vidas que elas julgam ser corretas porque um hino de um cantor, que por sinal também está longe de Deus, fala que é isso o certo a fazer. Bíblia? O que é isso?

    Quem nunca ouviu o Sabor de Mel, A Virada, A Química de Deus entre outras aberrações musicais em sua igreja ajoelhe-se a agradeça a Cristo, porque você é um dos poucos.

    Quando eu pego para ler o livro de Atos eu sinto vergonha, porque o que aqueles homens faziam em meio a pobreza e a perseguição, tanto de judeus quanto de romanos, deixa qualquer obra de nós, os “ricos e livres” do século XXI, no chinelo. Somos tão cheios de nós mesmos que não há mais espaço para que Deus nos encha. Isso é mais do que lamentável, é desesperador.

    Toda ênfase do pensamento “evangélico” dominante em nossa sociedade tem que ser revista, porque muitas pessoas vão dizer naquele dia: "Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? e em teu nome não expulsamos demônios? e em teu nome não fizemos muitas maravilhas?" Quem conhece a bíblia sabe como esse diálogo termina.

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